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Pretuguês é resistência

Que língua é poder isso nós já sabemos, mas, poder para quem? Primeiramente, é necessário saber o que é língua e como ela foi transformada no decorrer do tempo. Além disso, salientar que o processo colonial trouxe várias marcas linguísticas nas Américas.Temos como exemplos alguns países das ilhas caribenhas que usam o Patois e nos […]

Que língua é poder isso nós já sabemos, mas, poder para quem? Primeiramente, é necessário saber o que é língua e como ela foi transformada no decorrer do tempo. Além disso, salientar que o processo colonial trouxe várias marcas linguísticas nas Américas.Temos como exemplos alguns países das ilhas caribenhas que usam o Patois e nos Estados Unidos é possível encontrar o Black English. E no Brasil? O que encontramos de negritude na nossa língua? O Português brasileiro passou por vários processos. Durante a colonização a nossa formação linguística ganhou influência dos povos indígenas e africanos.
 
A escravização dos africanos no Brasil foi carregada de variantes etnolinguísticas. Nosso português brasileiro foi formado entre nagôs, iorubas e jejes, além das línguas indígenas. Assim, nossa língua não seria essa que falamos se não houvesse influência dos outros povos.
Mas, é evidente que houve uma tentativa de apagamento linguístico dos indígenas e negros escravizados. O aportuguesamento foi mais uma maneira de aniquilação de culturas que fossem diferentes da europeia. A gramaticalização e a normatização dada no sistema escolar é, mais uma vez, uma forma sutil de aniquilar aquilo que temos de mais precioso em nossas raízes linguísticas: a oralidade. É de se saber que os povos africanos tem em sua essência a oralidade, pois os costumes e sabedorias são passados através de contos verbalizados fora da escrita.
 
A partir do momento que um povo é submetido a falar forçadamente um idioma que não faz parte de sua origem e, para ser mais especifica, aprender de um modo violento, pode haver uma grande dificuldade na aquisição da língua do colonizador. Se hoje temos o português afro-brasileiro, ou melhor, o pretoguês (como foi cunhado pela intelectual Lélia Gonzalez), é consequência dessa maneira forçada que os colonizadores obrigaram os africanos a aprenderem a língua branca.
 
É perceptível que, atualmente, a população fora dos cargos de grandes prestígios são as que não dominam a norma culta da língua portuguesa. Isso ocorria também na época da colonização. Os negros que mais se aproximavam da língua europeia eram os que gozavam de uma posição mais favorecida na casa grande.
 
Se língua é poder e a forma como a população negra falava e ainda fala é errada, se o modus operandi de ensinar o português continua igual a era colonial, logo, o poder é tirado do povo negro. A linguagem negra (leia aqui linguagem em todos os signos) é uma das formas de resistência. Levando para a linguagem corporal, podemos citar a capoeira e, até mesmo, o samba.
 
Por que nossas linguagens são postas no lugar de “sub”, se elas são nossas formas de resistência no mundo? Nossos signos continuam aqui, resistindo. Nosso corpo no mundo continua aqui, insistindo. Nossa língua continua aqui fortemente oralizada com léxico e sintaxe. Sim, nós temos! O português afro é política; é combate ao racismo. Por que descartar nossa particularidade oral? A língua é também empoderamento da comunidade negra. Continuaremos com ela.
 
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