Foram dois dias e uma noite. Mas a sensação de que o tempo reservado para as palestras e debates quase não deu conta de tudo que havia para ser dito predominou entre os trabalhadores que participaram do Seminário de Formação Sindical de Base do Sindicato dos Servidores dos Serviços Auxiliares do Poder Judiciário do Estado da Bahia (SINTAJ), realizado entre a noite da última quinta-feira (3) até este sábado (5) no Hotel Sol Barra, em Salvador com o tema “Onde estamos e para onde queremos ir”.
A participação dos servidores foi muito grande. As discussões foram intensas, as argumentações bem embasadas. As apresentações abordaram com grande dose de realismo o atual cenário de retrocesso social e de retirada de direitos da população, além de trazer para a base do sindicato assuntos que têm dividido o protagonismo da nova esquerda juntamente com a luta dos trabalhadores.
Gênero e violência
A primeira explanação do evento foi um exemplo deste último tipo de tema. Na quinta o professor de ciências biológicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), Marcos Lopes, abordou as tensões, recuos e avanços no debate sobre diversidade de gênero.
Lopes falou sobre a violência física e simbólica que acomete as mulheres e o grupo LGBT. Para o docente ainda há muito o que se avançar nessa discussão de forma a acabar com o preconceito, que segundo ele ainda é muito forte e se justifica pelo fato de a sociedade ser “generificada”.
“No Brasil não se investiga todos os assassinatos da mesma forma e sim de acordo com a classe social da vítima. Quando junta isso aos marcadores de etnia e sexualidade a coisa piora muito mais”, afirmou.
Onde estamos
Já na sexta feira as palestras foram direcionadas a atual conjuntura política e aos mecanismos técnicos utilizados pelo governo federal para atacar os direitos dos trabalhadores. Pela manhã os professores Antônio Mazzeo e Giovanni Alves abordaram a conjuntura política atual. Ambos deram uma aula de história e pensamento político.
“A escravidão ainda não foi abolida da nossa sociedade. Ela está presente no plano ideológico, porque nós temos uma classe dominante que vive de explorar a força de trabalho de outras pessoas”, refletiu Mazzeo.
No turno da tarde falaram a economista e técnica do DIEESE, Ana Georgina Dias e o representante do Movimento pela Auditoria Cidadã da Dívida, Bruno Tito. Os palestrantes abordaram respectivamente os prejuízos causados pela reforma da previdência e o sistema da dívida pública.
“A gente ouve o tempo todo que a previdência é deficitária. Mas quando os trabalhadores públicos contribuem a verba não vai para o regime geral do INSS, mas o governo contabiliza o benefício que vocês recebem quando se aposentam como se fosse do INSS fazendo parecer que a previdência é deficitária quando não é”, esclareceu Ana Georgina, esvaziando o principal argumento do governo para justificar a reforma da previdência.
Já Tito escancarou como o fato de mais de 45% do orçamento brasileiro ir para o pagamento da dívida pública, que tem grandes irregularidades, prejudica a população que precisa do serviço público. “O verdadeiro rombo nas contas públicas não está na saúde, na educação ou no salário dos servidores, mas sim no pagamento da dívida pública”, sentenciou.
Por que vocês estão aqui
Na sexta-feira a PEC 241 e o Poder Judiciário entraram em pauta. Na primeira explanação do dia o analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Neuriberg Dias, falou sobre o desmonte do estado que será promovido pela Proposta de Emenda à Constituição 55 (PEC 241) e pelo PLC 54 (PLP 257), que congelam os gastos públicos em nível federal e estadual, respectivamente.
A segunda palestra do dia foi proferida pelo professor de Direito da Universidade de São Paulo (USP), Alysson Mascaro. Com sua fala assertiva, embora bem humorada, Mascaro levou os trabalhadores a refletir sobre a sua condição, o papel que exercem no Judiciário e na sociedade ao falar sobre “Política, Poder Judiciário e Crise Brasileira”.
“Tem muita gente que chega ao movimento de luta porque pensa no outro e diz eu sou trabalhador como ele. Esse sente o coração bater pelo outro. São essas pessoas que quando ouvem palestras como essa o olho brilha. Porque ano que vem haverão brasileirinhos e brasileirinhas que não terão hospital. É essa a razão de vocês estarem aqui”, finalizou o professor emocionando a plateia.
Fala servidor
Muitos dos trabalhadores participantes aproveitaram suas falas para elogiar a organização e as palestras do seminário.
“As palestras foram muito bem elaboradas e nos trouxeram muita informação. Eu percebi que temos que assumir duas posturas: a de libertadores em relação as formas de opressão de gênero e de reação dos trabalhadores de forma organizada para que haja uma auditoria da dívida pública”, declarou Carlana Farias, de Barreiras.
“O momento atual é de reflexão e formação para nos organizarmos e lutarmos. Porque ou o trabalhador toma consciência que ele deve ser o protagonista da história ou será efetivamente massacrado pelo golpe de estado que nós tomamos”, refletiu Cláudia Garcia, lotada no fórum Regional do Imbuí.
“As palestras foram muito direcionadas, informativas e didáticas. Acho que o aproveitamento do pessoal está muito grande e o nível dos convidados é excelente. Contribui muito para nossa formação”, disse Luiz Cláudio, da comarca de Santo Estevão.
sindicato FORTE, servidor RESPEITADO!