D. Margot Viana teve uma vida incomum para uma mulher que nasceu no ano de 1917. Aprendeu o ofício que exerceu durante toda a sua vida com o seu pai e se aposentou após quarenta e oito anos de trabalho, dois dias antes de completar o tempo máximo, quando seria afastada do trabalho compulsoriamente. “Me aposentei para não ficar feio”, conta aos risos.
Aos 100 anos, recém completados no último sábado (18), a ex-taquígrafa do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), filiada ao SINTAJ, conserva uma lucidez desconcertante para os que associam essa fase da vida apenas a impossibilidades. Ao escolher uma memória marcante da sua vida, ela, que viu e viveu em um mundo que os mais novos têm uma vaga ideia do que foi, fala sobre o Tribunal. “Eu gostava muito do Tribunal. Fiquei uma vida lá, né? Eu gostava de tudo o que eu fazia. Eu poderia ter saído mais cedo, mas fiquei lá por muito tempo”, narra com orgulho.
“Eu ia todo dia. Fazia o que tinha que fazer. Acompanhava os desembargadores na sessão”. D. Margot afirma que a Corte era um lugar ótimo para se trabalhar e credita ao ambiente de trabalho saudável o tempo extra que passou no TJ-BA. Mãe de cinco filhos, ficou conhecida na Corte por sua paixão pelo trabalho, sua responsabilidade e pela elegância. “Alguns desembargadores e colegas falavam do porte da minha mãe e da maneira de ela se vestir. Até hoje ela só fica em casa assim [ exibe a roupa arrumada, a maquiagem e as unhas feitas de D. Margot] e quando eu chego aqui desarrumada ela diz: você teve coragem de sair assim? ”, conta, entre risos, Magda Viana, quarta filha de D. Margot, que acompanhou a entrevista.
A senhora centenária resolveu ser taquígrafa porque era a profissão do pai e como ele já estava cansado do trabalho decidiu seguir seus passos e exercer a sua atividade. Conta isso com ar despretensioso, de quem não leva em conta o quanto essa atitude foi e ainda é revolucionária. O faz do mesmo modo que afirma não gostar muito de novela e preferir acompanhar a política nos telejornais. “Nada disso do que está acontecendo aí [os escândalos políticos] vai chegar onde deve chegar [a prisão dos principais responsáveis]”, afirma sem muita esperança.
Questionada sobre o motivo de ser filiada ao SINTAJ a aposentada é direta. “O SINTAJ é ótimo, né? É um sindicato muito bom”. Sem maiores delongas e sempre sorridente.
Ao longo dos quarenta e oito anos de trabalho no TJ-BA D. Margot Viana peitou alguns desembargadores quando achou necessário, colecionou histórias engraçadas e inusitadas, fez muitos amigos no Judiciário [com alguns deles tem contato até hoje] e carregou consigo uma convicção, a qual passou para os filhos e que diz com a certeza de quem trabalhou muito tempo na área. “No serviço público nada é impossível”.
O SINTAJ parabeniza D. Margot pela sua grande trajetória no TJ-BA e pela vitalidade e lucidez dos seus 100 anos.
sindicato FORTE, servidor RESPEITADO!